A Arte da Tapeçaria e da Fibra Brasileira: Vivian Silva, 1972-1992.

A Arte da Tapeçaria e da Fibra Brasileira: Vivian Silva, 1972-1992.
A Arte da Tapeçaria e da Fibra Brasileira: Vivian Silva, 1972-1992.

Sunday, March 10, 2013

A Arte da Fibra.


A Arte da Fibra.    
         


Arte da Fibra, que participa da dita, Cultura da Fibra propiciou aos artistas nela inseridos a possibilidade de criação de obras têxteis, inovadoras, Murais, Esculturas e Instalações na Arte da Fibra baseadas na natureza da(s) técnica(s) de bordado, tecelagem e trançado, entre outras ditas, artísticas, nas obras confeccionadas com fibras. No caso de obras elaboradas nas técnicas desenvolvidas pessoalmente por vários artistas que se dedicaram às técnicas de origem têxtil em todo o mundo, a maioria das obras é Abstrata. Na Arte da Fibra brasileira queremos destacar alguns pioneiros como Zoravia Bettiol, Jacques Douchez, Janete Fernandes, Dilma Góes, Berenice Gorini, Marília Herter, Liciê Hunsche, Delba Marcolini, Norberto Nicola, Ana Norogrando e Bia Vasconcellos, entre outras.

 

Zoravia Augusta Bettiol nasceu em Porto Alegre (RS); gravadora e artista plástica, foi das primeiras a produzir Arte da Fibra no Brasil, além de desenhos, xilogravuras, linóleogravuras, estandartes e objetos, jóias em metal em formas tridimensionais e igualmente em materiais flexíveis, fios e matérias têxteis, além de instalações tecidas e pintadas, entre outras. As primeiras formas tecidas de Bettiol foram apresentadas a partir de sua mostra na Galeria Bonino (Rio de Janeiro, 1970); ela continuou participando de mostras coletivas de formas tecidas e xilogravuras, e expôs individualmente em 123 mostras (1959-2006).


Em meados da década de 1970 na Cultura da Fibra ocorreu o nascimento das mostras conjuntas Argentina, Brasil e Uruguai (MAM, Buenos Aires, 1977); e, na década de 1980, das mostras conjuntas Brasil e Uruguai (Galeria Latina, Montevidéu, 1977), além de mostras nacionais e internacionais de Mini-têxteis, categoria a parte, que, posteriormente, será objeto de texto nesse blog. Os países citados reconheceram a Arte da Fibra como vanguarda de âmbito internacional: e, a Bienal Internacional de São Paulo premiou as obras dos mais importantes representantes da Cultura da Fibra internacional: a polonesa Magdalena Abakanowicz (1971), a romena Jagoda Buic (1976), bem como o casal de artistas romenos naturalizados alemães, Ritzi e Peter Jacobi.


Pioneira nas Instalações na Arte da Fibra nacional, Berenice Gorini (Santa Catarina, 1941-), expôs suas obras têxteis a partir de meados da década de 1970, na I Mostra Brasileira de Tapeçaria realizada na FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado (São Paulo, 1974). A artista recebeu o Prêmio Revelação na I Trienal de Tapeçaria, no MAM (São Paulo, 1976). Gorini foi pioneira nas obras escultóricas elaboradas somente com fibras: as suas Vestes Rituais foram tramadas com fibras naturais, tecidas e entrelaçadas e apresentadas na Instalação Monumental da Arte da Fibra (320 cm x 140 cm x 40 cm, cada peça, três peças), em exposição na XV Bienal Internacional do MAM - Museu de Arte Moderna (São Paulo, 1976). A artista participou com Instalação do I Encontro Sul Americano de Tapeçaria (MAM - Buenos Aires, Argentina, 1977); da Sala Mito e Magia da I Bienal Latino Americana na Fundação Bienal (São Paulo, 1978); da II Trienal de Tapeçaria, no MAM (São Paulo, 1979). A artista expôs individualmente (Florianópolis, 1967; 1972; 1986; 1988); na Universidade Federal de Santa Maria (RS, 1987); em Porto Alegre (1975; 1989; 1993). E, no exterior, Gorini expôs suas obras têxteis na mostra Tapeçaria Brasileira no Museu de Arte Decorativa (Buenos Aires, 1980); na Mostra Internacional de Arte Têxtil (Linz e Viena, Áustria, 1981); no IV Salão Michoacano de Arte Têxtil (Michoacán, México, 1985); na Fiber Arts (Indiana, EUA, 1987); na Bienal de Havana, (Cuba, 1989), entre outras.

 
Liciê Hunsche, artista do Rio Grande do Sul, participou de inúmeras exposições internacionais, notadamente no Uruguai e Argentina, países que convidaram artistas brasileiros para participarem de mostras conjuntas, devido principalmente a ponte que o importante artista uruguaio Ernesto Aroztegui estendeu, entre os artistas brasileiros que se tornaram seus alunos, em Porto Alegre e São Paulo. Hunsche posteriormente dedicou-se a criação de carneiros Karakul, ela que foi a primeira a introduzir a raça no Brasil. A artista passou a produzir peças artesanais diferenciadas, atuando em toda a linha de produção, desde a criação e a tosquia do animal, a fiação artesanal da lã pura, o tingimento com corantes vegetais bem como a elaboração de peças utilitárias com a utilização da lã natural, nas cores bege, preto e café. A artista passou a exercer função social, produzindo fios de forma completamente manual, sem deixar morrer as tradições das técnicas artesanais de fiação, tingimento e tecelagem do material assim produzido. A obra utilitária da artista sustenta várias artesãs, que tecem sob a orientação de Hunsche peças personalizadas como mantas, ponchos, casacos e blusas de pura lã, entre outras. Os têxteis produzidos pela artista têm feito grande sucesso nas feiras regionais organizadas no seu estado natal.


Marília Herter nasceu em Porto Alegre (RS) e dedicou-se a Cultura da Fibra. Herter estudou com o mestre da Arte Têxtil uruguaia, Ernesto Aroztegui, juntamente com outros artistas como Sonia Moeller, Renata Rubim, Astrid Linsenmayer, Telma Cadermatori, Flávia de Albuquerque, Eraldo Burger, Moacir Chotgris, Ana Tiscornia e Plinio Bernhardt (Porto Alegre). Herter participou de mostra internacional na Galeria Latina (Uruguai, 1987). Posteriormente ela apresentou obra em homenagem a Ernesto Aroztegui: Mestre de muitos discípulos (1994, plástico e fio de seda, 83 cm x 77 cm), obra figurativa em fibras com o duplo retrato de Aroztegui, sendo que um se encontra invertido.

 

Ainda na fase de formação da Cultura da Fibra brasileira, no começo da década de 1980, o trabalho de alguns artistas voltado para o ensino e a divulgação das técnicas têxteis na arte, como do santista Labarros (Léo Barros), frutificaram na formação do Núcleo Paulista de Tapeçaria. Depois da realização do primeiro e único Congresso dos Artistas Têxteis, realizado no MARGS - Museu de Arte do Rio Grande do Sul, concomitantemente com a inauguração de uma das mais importantes mostras da Cultura da Fibra nacional o Evento Têxtil/85. Nesse Congresso foi lançada a semente que frutificou no CPT - Centro Paulista de Tapeçaria, cuja grande animadora e primeira presidente foi Delba Marcolini; e sua última presidente eleita Vivian Silva. Os associados ao CPT participaram das mais importantes exposições da Cultura da Fibra nacional, além de organizarem mostras conjuntas.



 
Vivendo em São Paulo desde a infância, a artista pernambucana Delba Marcolini, passou a fugir da técnica tradicional através de sua obra Solo Agreste (1985, 300 mx 200 x 30 cm), que é exemplo da Arte da Fibra brasileira. Nessa obra Marcolini empregou vários materiais regionais, na maioria fibras existentes somente no Brasil: a obra saiu da forma geométrica e do plano através de relevo, mas ainda presa à técnica tradicional do tear de alto liço. Essa obra de Marcolini participou do Evento Têxtil 85, mostra inaugurada no MARGS, itinerante por diversos museus e instituições culturais em vários estados brasileiros. Posteriormente Marcolini, que tem pesquisa de fibras naturais nacionais, especialmente das características do nordeste brasileiro, alcançou o espaço com obras escultóricas.


No final da década de 1980 o MAC - USP convidou a artista internacional Inese Birtins (Latvia - Canadá), para proferir o curso Utilização Artística das Fibras Naturais, na sua sede no Parque do Ibirapuera. Participaram do curso Zorávia Bettiol, Delba Marcolini, Cyssa Orlando, Marina Overmeer e Vivian Silva, entre outras artistas brasileiras envolvidas com técnicas têxteis desde a 1ª Mostra Brasileira de Tapeçaria, realizada no Museu de Arte Brasileira da Faculdade Armando Álvares Penteado [FAAP] (São Paulo, out. – nov., 1974). A mostra publicou um catálogo ilustrado com as obras dos participantes. Birtins proferiu seu curso anexo à sua grande exposição individual Contradições do Feltro (05-30 abr., 1989), no MAC - USP (Ibirapuera). As obras da artista foram todas executadas como esculturas de fibras flexíveis, na técnica milenar do feltro de lã (1989).


 
Outra artista que alcançou o espaço foi Ana Norogrando (Porto Alegre, RS), durante muitos anos professora da Universidade de Santa Maria (RS), que, na década de 1980 começou a bordar com arame de aço sobre a tela galvanizada. O material escolhido e a pesquisa pessoal desenvolvida pela artista levaram-na em trajetória meteórica do plano ao espaço, exemplo marcante de passagem da Arte da Fibra para Escultura. Norogrando começou a trabalhar na tela de arame, bordando com o próprio arame pontos conhecidos, como Bainha aberta. Depois ela passou a bordar e desfiar o arame, com forma arredondada, saindo do plano, mas ainda presa ao mesmo: a forma em relevo se soltou, e, a obra foi enriquecida com o fio de cobre, muito maleável e com brilho próprio. Essa forma se soltou ainda mais, tornou-se espacial como meia esfera: a esfera completa, elaborada posteriormente, ganhou sustentação espacial quando colocada sobre mastro apoiado no chão. Esta série de obras, desfiada e trabalhada no arame de aço e cobre, a artista chamou de Ostensório(s). Das peças únicas que expôs, Norogrando passou a conjuntos de três ou mais peças, Instalação na Arte da Fibra. A artista, que já estava esculpindo de modo diferenciado da escultura tradicional, criou várias obras que hoje ornam espaços públicos brasileiros: suas esculturas eólicas se movem ao sabor do vento. Foi assim que Norogrando se transformou em uma das mais respeitadas artistas da Cultura da Fibra brasileira.



 
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


 
ANDRADE, G. E. de. Aspectos da Tapeçaria Brasileira. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1978.

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CATÁLOGO. Exposição Nacional de Arte Têxtil - Evento Têxtil/ 85. Porto Alegre: MARGS, 1985, il., 21,0 x 21,5 cm.

CATÁLOGO. Primer Encuentro Latino-Americano de Mini-Textil. Montevideo: CETU - Subte Municipal, 1988.

CATÁLOGO. Projeto Transfronteira. 1995-1996. Montevideo: SBTE. Municipal. Porto Alegre: Usina do Gasômetro. Florianópolis: Museu de Arte de Santa Catarina. Uruguay: Instituicción Kolping, Sussex Ind. E Com., 1995.

CATÁLOGO. Segundo Encuentro Latino-Americano de Minitextiles.Montevideo: CETU - Sbte Municipal, 1991.

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CATÁLOGO. II Exposição do Centro Paulista de Tapeçaria. São Paulo: SESC - Pompeia, 09-25 out., 1987.

CATÁLOGO: 7o Encuentro Nacional de Arte Têxtil. Montevideo: Ministerio da Educacion y Cultura, Intendencia Municipal de Montevideo e Secretariado Uruguayo de La Lana (SUL), ago., 1987.

CATÁLOGO. VII Salão Nacional de Arte Têxtil. Bienal. Buenos Aires: Ministério da Educação e Justiça, Secretaria de Cultura da Nação, Direção Nacional de Artes Visuais, Salas Nacionais de Exposição, 1988.

CATÁLOGO. Uma visão sobre a arte têxtil brasileira hoje. Copenhagen: Museu Rundertarn. Lisboa: Museu Nacional do Traje. Porto Alegre: MARGS. Florianópolis: Museu de Arte de Santa Catarina, 1995-1996.

CATÁLOGO: URUGUAY. XLII Biennale di Venezia. Montevideo: Museo Nacional de Artes Plásticas y Visuales, Ministerio de Educación y Cultura, 1986.


CÁURIO, R. Artêxtil no Brasil: Viagem pelo mundo da tapeçaria. Rio de Janeiro: 1985. 304p, il., algumas color., 21,5 x 29,5 cm.


CONSTANTINE, M: LARSEN, J. L. Beyond Craft: The Art Fabric. New York, Cincinnati, London, Toronto, Melbourne: Van Nostrand Reinhold, 1973. 293p., il., algumas color.  26,5 x 35,5 cm.

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272p.,: il,  algumas color. 26,5 x 35,5 cm.

CONVITE. Mostra Coletiva de Tapeçarias. Guarujá: Galeria de Artes do Centro Municipal de Cultura, 20 abr. - 06 maio, 1984.

CONVITE.Mostra do Núcleo Paulista de Tapeçaria. Campinas: Museu de Arte      Contemporânea de Campinas, 10-31 ago., 1983.

CONVITE. Mostra do Núcleo Paulista de Tapeçaria. São Paulo: Museu da Casa     Brasileira, 10-25 nov., 1983.

FOLHETO. Centro Paulista de Tapeçaria. São Paulo: Paço das Artes - Núcleo Paulista de Tapeçaria, 1983

FOLHETO. Contradições do Feltro: Inese Birstins. São Paulo: MAC - USP, 05-30 abril, 1989.

FOLHETO. CÁURIO, R. Douchez e a Tapecaria Brasileira.  Rio de Janeiro: Aliança Francesa e Câmara Francesa do Comercio do Rio de Janeiro,1983

FOLHETO. Projeto Transfronteira, 1995/ 1996. Montevidéu: Sbte Municipal. Porto Alegre: Usina do Gasômetro. Florianópolis: Museu de Arte de Santa Catarina. Uruguai: Instituicion Kolping - Sussex, 1995.

FOLHETO. IV Mostra de Centro Gaúcho da Tapeçaria Contemporânea. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, Secretaria Municipal de Educação e Cultura, Atelier Livre, 1987.

REPORTAGEM. Estilos Diversos de Tapeçaria em Guarujá. Santos: A Tribuna de Santos,     sexta-feira, 20 abr., 1984.

TURNER, J. (ed.). Encyclopedia of Latin American and Caribbean Art. New York: Jane Turner and Grove, 2000. 782p., 40p. de lâminas color.: il., mapas. (Grove Encyclopedias of the Art of Americas, 2 v.).

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